REFLEXO ATEMPORAL - poema de Tarso Corrêa
Sou invisível, algumas vezes;
Causo estranheza, repulsa; quase sempre,
Mas mesmo que me menosprezes;
À minha presença, teu corpo pulsa, lateja,
Em convulsões de náuseas,
Pois sou a tua parte mais carente;
A que rasteja agarrada às rédeas da tua fragilidade,
A qual escondes, mas que perto de mim, és latente,
Que queima tua face, tua alma, teu ego ardente.
Não tenho privilégios e nem preferências,
Minha companheira são minhas carências e meus sortilégios,
Sou do mundo, das ruas;
Que desvelam nuas, nossos segredos mais profundos;
Meu teto são as estrelas, as núvens;
Minha cama um papelão, um chão,
Que me absorvem, envolvem na neblina do álcool,
De um sono profundo e puro de um querubim.
A casa que moro é sem teto, a comida que como, é sobra tua;
As roupas que uso, são descartes teu;
Mas meus sonhos são meus!
Este corpo fétido, roto, machucado, esfolado,
É o que sobrou de um longo passado meu.
Blog sobre poesias. Poesias que gritam as mazelas humanas e seus encantos; suas perdas e microcefalias sociais, em que somos atores das nossas frustrações, buscando a receita da felicidade.
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