Pesquisar este blog

domingo, 15 de setembro de 2024

DESCONTINUO

 Descontinuo - poema de Tarso Correa


Coloquei minha vida em uma caixa,

Limitada, sem espaço, 

Cerrada em quatro cantos

Mas não tinha caixa,

Então, procurei algo mais amplo, mais etéreo.

Coloquei no balão.

Sem quinas, mas o espaço também era limitado,

Mas não tinha balão,

Fiquei perdido e coloquei na água,

Fluida,

Mas não tinha água 

Então busquei algo que me desse segurança,

Plantei minha vida na terra,

Não germinei,

Sem rumo e direção 

Coloquei minha vida no aleatório 

Criei asas, voei, ampliei, horizonte virei.

domingo, 29 de outubro de 2023

DE MÃOS DADAS

 De mãos dadas… - Poema de Tarso Correa 


Meu filho, hoje é meu pai,

As minhas ideias se misturam,

Esqueço muitas coisas,

Sofro o passado como se fosse presente.

O tempo é lento, carente

O futuro de braços dados com o passado é o hoje, tudo se abstrai.

Ontem fui rompante hoje uma mente frágil e

 corpo miudo, 

Minha mente uma caixa de lembranças misturadas, desconexas,

 E outras simplesmente se esvaíram, apagaram, deixando espaço vazio, como meu olhar para o nada.

Lembranças nubladas pela catarata do tempo.

Abstratas.

Fico a flutuar em um mundo volátil, desnudo.

A cada passar do calendário, 

Enrijeço, torno refratário , em um espaço vazio,

Oco, igual a mim, 

Uma caixa de retratos misturados, sem data,

Sem significados

Sem importância,

Pura impedância.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

SUBSTANCIAR

 SUBSTANCIAR -  poema de Tarso Correa


A vida é apego, aconchego

É apertar os nós, alguns desatar

Deixar partir e chegar;

Alguns chegam nos envolvendo

Como um trançar de braços

Outros se vão em passos lentos 

Que a gente nem percebe o seu distanciar.

A vida é um enlaçar de almas

Nesta dança frenética

De chegadas e partidas, de idas

 e vindas

A vida é atrito neste baile de uma música só.

É o vagar as vezes sem ninguém ao teu lado, outras embaralhados, condensados num compasso de grande laço.

E neste ritmo de apertar e soltar

De substanciar e evaporar

O tempo passa e repassa

Na única certeza de amar e deixar se amar .

terça-feira, 23 de agosto de 2022

LAPSO

 LAPSO - poema de Tarso Correa 


Quando fiquei velho,

Não foram os cabelos brancos, os anos vividos;

Nem o passar dos tempos puídos.

Foi quando criei raíz 

Tudo que não fiz,

Foi o acomodar com o nada

Com a vida atabalhoada,

Sem tempo para o vagar em mim

Neste momento carmim.

Quando fiquei velho

De olhar vago sem reflexo

Me vi velho com a vida enrugada,

Amassada no atropelo de tudo;

E mudo acomodei neste complexo do nada

Que afaga, apaga os meus sonhos

De voar, ar afagar;

Quando fiquei velho

Empedrado, amortalhado

Sem ver, sentir, flutuar,

Sem tempo para me amar,

Fiquei velho .

quarta-feira, 13 de julho de 2022

AQUARELANDO

 AQUARELANDO - poema de Tarso Correa


Livre do claustro dos tablados

E dos limites das coxias

Solta como um passarinho fora do ninho

A bailarina do asfalto, iluminada por purpurinas

Sobre um tapete de listas brancas

Embaixo do holofote vermelho do semáforo

Riscava o ar com suas clavas coloridas

Traçando arco íris fugazes

Um show de segundos por alguns trocados

Trocados por um sorriso

Banhado em uma centelha de esperança;

E neste caos, fumaça e correria

O tempo para num flash de luz vermelha;

A rotina com seu hálito quente se faz presente

Quebrando o encanto

Tirando o manto da fantasia.

domingo, 6 de dezembro de 2020

ENCADERNANDO O TEMPO

ENCADERNANDO O TEMPO - poema de Tarso Correa

 O meu futuro abraça o passado, 
Enlaçado nesta distopia, 
Embaçado pela miopia, 
Do cronológico segmentado. 
O tempo corre paralelo, embaralhado, Trazendo o presente rasgado. 
Sou um reflexo atemporal, 
Dividido em múltiplas partes, 
Atados em um nó visceral, 
Encadernado em encartes avulsos. 
O meu presente pulsa, enamorado com o passado, 
Esquecendo o futuro, 
Que vem prematuro, torto, inseguro. 
O meu passado desleixado, 
Não lembra do futuro, 
Abandonando o presente, 
Que condescendente se cala; 
E neste mundo paralelo, 
Suturo todas as partes, 
Com a força de um Parabelo; 
Moldando, limpando, desfazendo, Reconstruindo, fluindo.

domingo, 26 de abril de 2020

REALIDADE NUA

Realidade nua - poema de Tarso Correa

A bala perdida,
Com endereço certo,
No peito do favelado;
Perdida são as oportunidades,
A falta do estado,
Oportunidade única, o caminho incerto,
Da corrente de ouro no pescoço,
Na cintura arma de calibre grosso;
Encontro entre duas certezas, caixão ou prisão.
É a falta do básico, saúde, educação e muito mais;
É o esgoto a levar a esperança morro abaixo,
Nesta sociedade que não me encaixo.
Sou preto forro,
Com correntes nos punhos.
É porrete no lombo,
Para cada sonho sonhado, neste grande quilombo.
É bala perdida,
Com endereço certo,
Dos falsos testemunhos;
Aqui tem trabalhador, estudante e sonhador,
Tem samba, funk e som de toda cor,
Resistência nos guetos;
Nas tranças, trançamos correntes,
Crentes num mundo igual,
Resistentes, amarramos nossa dor,
Neste estelionato social.
Somos mulatos, brancos e pretos,
Carregando nos abraços as engrenagens da cidade;
Sou preto forro com correntes nos pés;
Sou do morro, das vilas e favelas, aglomerados e muito mais.
São retratos das diferenças sociais,
Somos mananciais, máquinas e chão de fábrica,
Que expele a força de tantos Brasis;
Somos todos pretos cafuzos;
Reclusos no preconceito social;
Somos Prado Lopes, Paraisópolis, Aglomerado da Serra,
Morro do Papagaio,
Somos Casa Amarela, Ceilândia, Cidade de Deus,
Nova Jurunas e tantos mais.
Somos muitos e esquecidos, largados e poucas vezes lembrados,
Nas manchetes dos jornais;
Somente pela violência, pela dor;
Apaga se tudo , com filho enterrado, lamentado.
Resta somente a resistência, resiliência,
Destes pretos forros com as correntes dos seus ancestrais.

DESCONTINUO

  Descontinuo - poema de Tarso Correa Coloquei minha vida em uma caixa, Limitada, sem espaço,  Cerrada em quatro cantos Mas não tinha caixa,...